Um domingo ao ócio.

          Minha natureza intelectual sempre procurou pelo ócio. Existia algo de confortável nele, embora por vezes sentia me com uma inhaca, impedindo me de levantar e atender às demandas superegoicas;            No mais, os momentos ociosos, dos quais observar atentamente o formato das nuvens e a cor do céu me traziam três emoções muito singulares: a calma, que ia contra a afobação da natureza, proporcionando me um entendimento mais verdadeiro dos meus vícios, culpas e anseios (o que por sua vez é certamente mais difícil de se fazer quando nos encontramos num ônibus lotado às 6:00am);  o êxtase provindos dos surtos de criatividade que me deixavam muito confuso acerca de um embate: "meus pensamentos, neste momento, se tratam de fortes ambições ou seriam eles meros sonhos infantis e utópicos demais para a cruel realidade do meu envolto?"; e o auxílio perante a difícil tarefa de compreender melhor e mais profundamente o mundo que me cercava, pois só era possível processar toda a informação que me eram concedidas, nesses momentos.
           Assim, porém, sempre me endaguei sobre o porquê da escola me ensinar a filosofia de Foulcalt, se logo em seguida, o sinal do colégio gritaria com desespero meu nome afim de me lembrar de que eu não estava ali para me divertir. Por quê? Por que tecnologias, governos e tradições se adaptam ao seu tempo, mas as instiuições de ensino não? Afinal, quando, de fato, eu poderia processar tudo o que me foi ensinado e observar lentamente as informações que acabara de aprender modificarem lentamente a minha visão de mundo, se me eram empurrados, garganta abaixo, conceitos, desejos e visões de mundo?
           Então, após inúmeras tentativas fracassadas de me encontrar e formar minha identidade, descobri o pensamento modernista - "tempo é dinheiro" - e meus dias nunca mais foram os mesmos. Pois entendi que não importaria o meu entedimento a respeito das complexas faces do mundo ou se eu possuia a alta capacidade de executar aquilo que era de meu interesse; de nada valeria isso tudo se eu não fosse capaz de assinalar as alternativas corretas da vida moderna. Tal choque de realidade me afastou do conhecimento de forma traumática, me levando à valorização da estética, da arte e literatura em detrimento da virtude e do ensino formal.
          Entretanto, eu, assim como muitos outros, me encontrei na ciência por conta própria. Não por estímulos provindos de meu ambiente ou ensino, mas por intuição ou mero interesse particular de minha personalidade. Contudo, me pergunto se não perdemos grandes mentes (não que a minha seja) pelo simples fato de exigir que peixes, parafrasiando a velha frase clichê, subam árvores, mesmo sendo eles peixes concorrendo com primatas. Os peixes nadam melhor que macacos, mas muitos deles morreriam achando que precisavam subir àrvores.
          Sendo assim, além de jogar fora nossas vocações, as sólidas estruturas sociais parecem nos sufocar com o consumo, com os desejos que superestimulam o ID mas que vão contra ao superego que é modelado pela própria sociedade do qual o indivíduo está inserido. É uma irônia. É como virar às costas para Freud, Durkheim e Bauman quando diziam que liberdade e segurança não andam juntas.
          Enfim, a culpa que se sente por dar se ao luxo de devanear enquanto olhas o céu é uma das maiores tragédias dos efeitos colaterais, produto da sociedade do cansaço pós-moderna. Pensamentos intrusos que te lembram que você precisa agir mais depressa, que trazem à tona seus desejos de consumo e deveres. Eis aí a prova de que o ser humano constrói castelos de cartas, século após século, para que um suave vento os derrubem como se nada fossem. E assim, espero que tenhas um tempo para refletir sobre o que foi lido, antes de voltar à loucura dos feeds e às demandas da rotina.

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